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Sobre nós

PRINCIPIO DE TUDO

Oriundos dos vários cantos do país, assentámos praça, fizemos a recruta, jurámos bandeira, especializámo-nos e fomos mobilizados para a então provincia ultramarina de Angola. Eramos cerca de 130 homens (vêr relacção do pessoal), juntámo-nos em Évora no Regimento de Artilharia Ligeira nº 3 (RAL 3) e em 4 de Setembro de 73 fomos transportados em autocarros até ao aeroporto militar de Figo Maduro em Lisboa, donde partimos num Boing 747 para Luanda.

CHEGADA A LUANDA

Chegámos na manhã do dia 5, fomos tranportados como animais para o grande parque militar do Grafanil, onde pemanecemos cerca de uma semana, para recebermos o armamento, vacinas e várias instruções. Nesta permanência em Luanda, ficámos quase todos muito impressionados com a sua beleza e modernidade. Aos 130 naturais da metrópole (a que os de lá chamavam "puto") juntaram-se cerca de 30 naturais de Angola, completando o efectivo da companhia.

COM DESTINO AO INFERNO

De Luanda, fomos transportados cerca de 600 km em camiões de carga, como se fossemos gado, até Nova Lisboa (hoje Uambo) e dalí em comboio a lenha mais cerca de outros 600 km durante 24 horas, até ao Luso (hoje Luena). Do Luso fomos novamente como gado por mais 300 km de picada, já na zona da guerra a sério e das fatidicas minas até Lumbala Velha, perto da Zambia,  onde chegámos bem noite. Enfim, tinhamos chegádo ao fim do mundo, zona conhecida como "quadrado da morte", onde tudo acaba, sonhos, esperança, onde os tais jovens, pouco mais do que crianças, o deixam de ser e sem se aperceberem passam a ser autênticas bestas humanas. Lumbala Velha, chamada assim, devido ao rio Lumbala (de flora e fauna espetacular), afluente do Zambeze (alí com cerca de 200 m de largura e cheio de jacarés), transitável para a outra margem para ligar à picada do Casombo, através duma grande jangada metálica movida a motor. Alí só estava uma pequena parte da nossa companhia, junto a uma outra já em final da comissão. O grosso do nosso pessoal estava colocado em pequenos grupos distânciados uns dos outros, a fazer protecção à construção de uma estrada que ligaria a zona do Cazombo ao Lucusse (onde estava a CCS do nosso batalhão). A Lumbala já era um pesadelo, mas a protecção à construção da estrada, não dá para descrever. Dormia-se em pequenas tendas velhas de lona, não havia água potável nem outra, a comida era confecionada na Lumbala, transportada em coluna por picada e mato puro. Quando chegava ao último grupo, não é fácil imaginar como estava. Ao fim de cerca de mês e meio, Já estavam minadas duas das nossas três Berliets (viatura pesada que quando armada com sacos de areia, ia na frente da coluna servindo de rebenta minas). Felizmente, ou graças não sei a quê, vieram as chuvas, que fizeram parar a obra da estrada e dalí saímos no principio de Novembro de 73.

DALÍ PARA O lUVUEI

Saímos da Lumbala e fomos para o Luvuei, numa grande coluna até ao Lucusse, durante dois longos dias, com tudo o que tinhamos, mais o pessoal e equipamento da JAEA (construtora da estrada) por percurso muito pouco utilizado, onde mesmo assim acionámos uma mina. Do Lucusse ao Luvuei (cerca de 80 Km) já foi só a coluna militar. Chegámos ao Luvuei onde rendemos a comp cav 3517 no início de Novembro e ali permanecemos até finais de 74. O Luvuei era uma pequena povoação com este nome igualmente devido ao nome do rio que por lá passa, (onde perto da sua nascente consta ter sido abatido o lider da UNITA Jonas Savimbi) e tinha uma população com cerca de duas mil pessoas negras, e duas famílias de brancos, ( a do cantineiro Sr Moriz e a do administrador de posto) situada a meio, na estrada (já asfaltada) que ligava o Luso a Gago Coutinho. O Luvuei, comparado com a Lumbala, era o paraiso. Viemos encontrar um aquartelamento com a maioria dos edifícios com cobertura em chapa de zinco e paredes em adobo ou tijolo rebocado e caiado, gerador de corrente eléctrica, depósito aéreo com água  canalizada, frigoríficos e arcas a petróleo, camas com colchões, forno para fazer pão, campo de futebol de 11 e outro de salão, pista de aviação. Enfim, não fosse entre outras coisas, as saudades dos nossos, a realidade daquela tão estupida guerra sempre presente e as malditas minas, até não era pior.

NO LUVUEI